Olá, eu sou o Bicho Danado


Escrevo umas coisa. Se gostares, comenta. Se não gostares comenta. Lê.

Procura alguém com imaginação para escrever textos diferentes?  

Príncipes e Sapos

Às vezes a chuva bate forte.
Fica a doer no corpo como um laço de corda.
A corda fica bamba.
E bamba , a corda bamba e eu balanço nela e cheira-me à canela.
Como um doce de arroz onde se prende a trela.
Há sempre uma panela na cozinha, que cozinha .
Ao canto da cozinha um sapo que é uma rela.
Ferve panela!
Há sempre um príncipe que nunca entrou nela.
Ferve sapo, vira príncipe.
Arde fogo na panela. Cozinha a rela.

Tira-me a sela! Solta-me a trela!t



A DERROCADA DO DISCURSO INOVADOR

A mulher do discurso pirâmide foi construindo o seu edifício pacientemente desconcentrando os ouvintes, transformando-os em bocejos e suspiros. Alguns de tanto tentar penetrar a força das palavras até adquiriram torcicolos.

Colocou primeiro as mais pesadas, suficientemente impenetráveis e coesas na base. Depois foi construindo metodicamente, umas a agarrar as outras sempre sobrepostas. Suficientemente sólida a parede das palavras, foi construindo mais três, que se amparavam à primeira, sempre com estudada inclinação e peso para que o interior OCO ficasse protegido de intromissões.

Terminava a construção, já os topos mais vulneráveis, por terem sido construídos no final com outro tipo de palavras mais leves e banais, quando da assistência hipnotizada com a força da erudição palavreática alguém teve de dizer alguma coisa para o discurso não parecer tão oco como o interior da pirâmide.

A voz da criatura soou encantadora por cima da assistência, qual flauta de Krishna. A assistência adormecida, sem atentar ao conteúdo, mas seguindo apenas o som. De súbito, alguém deu pelo espírito santo da orelha e ouviu claramente:

- A linguagem poética vai acabar. Agora só podem utilizar-se metáforas eruditas, abstractas e suficientemente dissimuladoras de intenções!

De repente a mulher que tinha espírito santo de orelha e língua de serpente soltou uma voz meio desconexa:

- Ora, isso não tem nada de inovador. Já se fazia no tempo da outra senhora, utilizarem-se metáforas eruditas, abstractas, e suficientemente dissimuladoras de intenções...

Os olhos da mulher que fazia o discurso faiscaram. As palavras caíram todas.

E toda a pirâmide se desmoronava, perante a assistência pesarosa. Afinal um edifício tão coerente e sólido...

No centro da pirâmide estava um homem. Enrolado sobre si mesmo na posição fetal os pés a as mãos juntos acorrentados com uma grilheta de palavras. Os olhos perdidos sem LUZ, reflectiam o cérebro dissolvido pelos esforços exercidos a desmontar as palavras radioactivas.

Em torno de si revolteavam borboletas de cores, azul metálico, verde alface, amarelo jasmim e rosa fucsia.

Eram os sentimentos que na ânsia de beber as palavras enganosas radioactivas, o homem sacudira violentamente.

Na sua pequenez, tornava-se enorme pela força das palavras. Semicerrando os olhos ver-se-ia uma crista reptilária que lhe subia ao topo da cabeça, e ainda as palavras verdes radioactivas lhe prendiam os pulsos e os tornozelos - estão verdes não prestam - mas eu não sou raposa - já as borboletas tinham descoberto um escorrega de LUZ e entravam pela boca, pelo esófago envoltas numa luz matutina ainda húmida e dando volta em bailado sincronizado qual clave de sol iam rodopiando à volta do coração preenchendo-se de uma luz branca e dourada que se distendia a todo o corpo.

Por fim todo o corpo do homem era luz. Passou de opaco a transparente, deixando ver todos os orgãos que pulsavam regulares, após o que se transformou numa massa incandescente.

As radioactivas soltaram-se guinchando e fugiram a sete pés (cem) parecendo centopeias.

Atarantada (atarantulada) a insignificante mulher com língua de serpente inclinava o pescoço para um só lado, incapaz de dizer sim ou não e balbuciava palavras incoerentes sem perceber todo o processo, nem qual seria a sua missão ali...  

E VEM UMA FOLHA

E vem uma folha rodopiando dourada e castanha ao mesmo tempo me faz pensar Outono, decadência, o que precede a velhice, as artrites, as artroses e as atrozes dores nas costas, nas cervicais, nos pés, nos tornozelos e noutras coisas mais. O medo da solidão. Ah o medo da solidão! Das noites frias sozinhas e caladas. Das noites caladas em que as palavras não ressoam nas paredes nuas, das minhas mãos que já não têm as tuas, das bocas engelhadas, desdentadas. Das mulheres esventradas que entram paredes dentro como facas afiadas. Dos sonhos perdidos, dos pesadelos, dos gritos e dos grelos. Crescendo nos vasos de terra estéril com desvelos de velhas a arrancar cabelos! O medo da falta do teu corpo sobre o meu a arrancar gemidos e gritos e pedidos. As asas de um corvo sobre a chaminé. E os fantasmas que não arredam pé. E os gritos! Os gritos mudos que não dei. E todas as palavras que calei. Por não ter quem ouvisse, tudo !

História de uma Viagem - ou duas - ou talvez não


A Viagem


Página 1

Todo o mundo e ninguém começa a parecer-me estranhamente familiar, logo que passo a porta de acesso ao embarque. Ali as pessoas sorriem e dizem olá e já se adivinha uma divisão subtil daqueles que afivelam um sorriso trocista ao nosso "branco" imaculado. A minha imaginação divaga... branco imaculado, virgem Maria, uma virgem no corpo, outra na alma.

O avião à pinha. - Agosto - os cabo-verdianos que trabalham em Portugal decidiram -todos?- ir de férias, no dia 31 de Julho de 2009, neste voo para a Praia? No avião não há um lugar vago. Sentamo-nos ao lado de um senhor de meia-idade, com ar simpático. É uma fila de três lugares. A criatura olha-me de soslaio a avaliar a companhia e cantarola do alto do seu fato de alpaca azul-escuro. Trauteia baixo uma qualquer melodia que não reconheço. Ao fim de 5 minutos, decide que sou de confiança. 

O homem do fato de alpaca azul silencia a música e começa o interrogatório - É a sua primeira viagem a Cabo Verde? - Sim é. E vai de férias? Quanto tempo? - Um mês. Um mês inteirinho! Digo numa alegria infantil de quem quer mesmo aproveitar as férias.

O homem azul começa a falar. Fala da profissão. É professor Universitário. Fala da sua vida, da profissão, dos amigos, dos hábitos de vida daquela gente, dos sítios que devo visitar, dos que não posso perder. Da música, dos cheiros, das cores, da vida. Vou bebendo as palavras, retendo o que me interessa daquela África que sempre quis conhecer o que durante anos não julguei ser possível. No meio algum pormenor me escapa. Tenho a sensação de que perdi alguma parte importante, mas começo a sentir-me um pouco cansada ao fim de duas horas de viagem e ininterrupta lengalenga.

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Página 2 - A Viagem - continuação

Falo com a menina mulher. Convido-a a acompanhar-me ao WC. Ela não percebe à primeira que estou a tentar pôr um intervalo na conversa do tagarela, pois ainda temos mais duas horas de viagem pela frente. Logo a seguir percebe e lá vamos esticar as pernas avião fora por entre cabo-verdianos alegres que gesticulam, bebem cerveja pela garrafa e conversam gritando animadamente de uns assentos para os outros.

Regressamos ao nosso lugar. Antes da interrupção já nos tinha sido servida uma refeição - o que não chegou para calar o simpático tagarela -. Agora sim, parece mais sossegado. Ligou o computador e parece disposto a ver um filme. 

 Talvez tenha percebido que o seu discurso me começava a cansar um pouco. Apesar disso nas duas horas seguintes vai fazendo alguns comentários, sempre com algum interesse. Quase parece tentado a desistir do voo que irá fazer de seguida para outra ilha, quando lhe digo que irei assistir a um espectáculo do Tito Paris. Por fim talvez o facto de lhe dizer que o meu marido me espera no aeroporto o tenha demovido.Pelo meio alguma turbulência normal e o voo decorre de forma confortável e segura.


O meu parceiro de lado que ficara com o lado da janela, toca-me ao de leve, chamando-me a atenção. Por sob a asa do avião vislumbro pela primeira vez a ilha. Uma alegria imensa percorre-me o corpo, os sentidos. À medida que nos aproximamos a terra vai aparecendo. Consigo perceber a parte pobre da ilha, e a parte mais rica, e a terra... A terra de África avermelhada e tão terra... A terra mais terra do que qualquer outra. Sem saber porquê fico emocionada. Forma-se-me um nó na garganta. Não sei o que sinto nem porquê. Tento perceber se é emoção de português ao chegar, se é o meu sonho de um dia viajar para África, se é a possibilidade de abraçar a criatura,  que me coloca nesta ansiedade. Acabo por perceber que não tem a ver com a última hipótese. Já me magoou tanto que perdeu o encanto.


O piloto aborda a pista violentamente. Todo o avião estremece quando o trem toca o solo e imagino uma pedra de isqueiro gigante a riscar o chão da pista e milhares de faúlhas coloridas de fogo e azul a saltarem por todos os lados. Sei de fonte segura que é o momento mais perigoso de toda a viagem. Fecho os olhos e rezo a oração de S. Miguel Arcanjo que ali, puxando-o do céu para segurar aquele pássaro gigante, me parece mais apropriada do que nunca. S. Miguel à frente, S. Miguel atrás, S. Miguel à direita, S. Miguel à esquerda, S. Miguel em cima, S. Miguel em baixo, S. Miguel, S. Miguel, S. Miguel, onde quer que eu esteja sou o teu amor e estou sempre protegida.

Completa-se a aterragem. Os cabo-verdianos que compõem uns 95% dos passageiros, iniciam um sonoro e histérico aplauso colectivo, que acaba por me contagiar. É uma onda energética de alegria e cor que me põe também a bater palmas com o coração aos pulos.

Seguem-se 2 horas de atenta pesquisa ao tapete rolante da bagagem, aguardando que as benditas malas saiam, pela portinhola, no meio de um calor imenso, abafado, mais quente que os dias piores de calor em Portugal. Jesus! Até eu que não gosto de ar condicionado, penso agora, que bem me saberia! Por fim as malas com intervalos de 30 minutos cada uma. Lá vamos, bagagem recolhida. Cabo Verde. Ilha de Santiago. Cidade da Praia!


Aqui vamos nós. Por entre as pessoas que aguardam os passageiros, logo à frente, vejo um homenzinho que gesticula do alto do seu metro e sessenta - Por aqui! - Por aqui! -

- Capítulo II -

Esta é a minha família de cabo verde

É ele. Percebo que está feliz por nos receber. Não só pela filha, mas também por mim. Está nervoso, feliz, ansioso. Pergunta-me logo pelas chaves do carro que me entregaram nos escritórios em Portugal, e que nos espera no aeroporto. Seria esse motivo parte da sua exuberante felicidade? Ao fim de 5 meses em Cabo Verde é a primeira vez que vai ter carro e isso põe-o como uma criança à espera de brinquedo novo. Conheço-te tão bem "Criatura"! Ás vezes desejaria que as pessoas tivessem mistério, mas é tudo tão claro e facilmente decifrável. O homenzinho Criatura irrita-se sobremaneira com o facto de o "Olho Vivo", como me chama, ser uma espécie de "grilo falante" que lhe penetra na consciência, pondo-a a nu, com todas as miudezas à mostra sem dó nem piedade. Esta minha mania da franqueza e de dizer tudo o que sinto, vai-me coleccionando dissabores ao longo da vida, mas como na generalidade gosto mesmo das pessoas e vejo nelas - salvo algumas excepções violentas que tenho por vezes, com os hipócritas e afins - o seu melhor, também tem servido para coleccionar grandes amigos.

Entramos no jipe, que o Criatura põe em movimento - feliz - nervoso - ansioso e seguimos por uma estrada de alcatrão entre um descampado que nos leva à cidade da Praia. À nossa direita um Pavilhão grande e feio, que segundo o Criatura , nos levará a um momento inesquecível das nossas férias em Cabo Verde, amanhã. Vamos assistir a um concerto do Tito Paris ao vivo! Ouvi pela primeira vez há uns meses, o Tito Paris. Até ali, poucos nomes na música cabo-verdiana me eram sonantes, tirando a Cesária Évora, pessoa que me deixou arrepiada desde a 1ª vez que a ouvi. No entanto, este Tito Paris, é sem dúvida um músico de se lhe tirar o chapéu. "Chapéu di Fita" ou "di Palha". Vale a pena ouvir. A instrumentação de uma qualidade extraordinária, incluindo violoncelos, um dos meus instrumentos favoritos. A voz, a composição. Nada a apontar, senão qualidade, rigor, ritmo.

O Criatura vai-nos mostrando a parte iluminada da cidade. Não nos iludamos. Estamos em África, embora o que me é dado observar se assemelhe extraordinariamente ao Algarve, não o de agora, mas o de quando lá passava férias há cerca de vinte anos atrás, quando "vivia acima das minhas capacidades". A construção antiga deixada pelos portugueses, o Platô, parece uma cópia da antiga Vila Real de Sto. António, algarvia. Mesmo a parte nova, das avenidas mais largas aos prédios e moradias da parte mais rica e moderna da cidade, onde o Criatura reside e vamos ficar, continuam a assemelhar-se fielmente às minhas cidades referência do Algarve. Julguei ir encontrar uma cidade similar ao interior do Alentejo, mas é cada vez mais o Algarve que me serve de termo comparativo.

Chegamos por fim à moradia, bonita, de boa construção, parecida com as portuguesas no melhor da gama. Um pátio com plantas verdes, bem cuidadas e árvores de fruto de pequeno porte, uma palmeira. Dois varandins de balaústres de pedra branca em redondo, no piso superior. As portas, portão e janelas de boa qualidade e gosto, lacadas a verde-escuro, o chão empedrado a ladrilhos de mármore 40 x 40. O páteo impecavelmente limpo e fresco. Minto! Fresco é que não. O calor começa a atingir-nos violentamente e o termómetro do carro onde se lia 28º no exterior, mente descaradamente. Estão pelo menos, no meu sentir, 35º à sombra nesta noite de 31 de Julho de 2009, pelas 21h30, cidade da Praia, Palmarejo - Cabo Verde. O ar começa a pesar-nos, a incomodar-nos. Um pátio interior igualmente preenchido de pequenas árvores e plantas, dá acesso a vários apartamentos no piso inferior e superior, através das escadas à volta do pátio. Verifico que existe suficiente privacidade entre cada apartamento, embora constate mais tarde, que se comunicam entre si, os que estão próximos, através de portas interiores, que, pormenor curioso, se encontram no entanto seladas, sendo portanto impossível abri-las.

Entramos no nosso apartamento por uma sala suficientemente espaçosa com uma cozinha em "open-space", tipo kitchnet, apetrechada com um fogão de forno alto com 6 bocas a gás impecavelmente limpo. Lava loiças em inox, móvel baixo e de parede. Bancada, frigorífico combinado. Na sala, um sofá cama de 3 lugares, 2 cadeirões confortáveis, tipo cadeira de baloiço, TV, aparelhagem de DVDs, um móvel ao baixo com gavetas. É um confortável apartamento de férias, que podia estar em Portugal ou em qualquer outra parte do mundo. Na verdade eu não esperava isto em África! Uma escada de ferro lacada a verde inglês, leva-nos ao 1º piso. O quarto é espaçoso com dois enormes roupeiros de parede munidos de gavetas e prateleiras. A cama de casal é grande. O quarto, suite, dá acesso a uma casa de banho grande, moderna, com banheira embutida na parede com grandes degraus de acesso. Está escrupulosamente limpa e bem apetrechada.

Todas as janelas de ambos os pisos se encontram protegidas por redes mosquiteiras de fina malha que não deixam passar sequer um mosquito. As redes encontram-se seguras através de armações de madeira fixas ao vão da janela pelo lado de fora, permitindo assim que permaneçam abertas durante a noite e não deixem passar as osgas, baratas, mosquitos e moscas ou outra bicharadas das que proliferam nestes países. A minha imaginação divaga imaginando alguma serpente ou outro qualquer réptil a ficar retido do lado de fora. Posso dormir descansada!

Refira-se no entanto que por via da esmerada limpeza a que é sujeito diariamente o apartamento e espaço limítrofe, ao fim de cerca de 15 dias, tínhamos visto apenas umas três baratas gigantes e duas osgas de porte médio e pigmentação bicolor.

A Menina Mulher sobe as escadas e fico à espera que o Criatura me abrace e me beije na continuação do abraço da chegada, agora na intimidade, como costumava fazer anteriormente, e me transporte novamente ao consolo de ser amada. Afinal parece ter-se esquecido que que estou presente e estranhamente vai sentar-se ao canto da sala numa das poltronas em frente à TV com o comando na mão. Coloca então uma música desconhecida no leitor de CDs da qual retive remotamente o repetido enaltecimento às mulatas de Cabo Verde. Sem que o possa evitar duas grossas lágrimas deslizam pela minha face estupefacta e com elas desce a cortina da ilusão. Tento disfarçar os meus sentimentos, fingir que não se passou nada, mas o "nhô" Criatura dá agora por isso, e embora tardiamente, vem perguntar-me o que tenho. Com a minha franqueza habitual sinto-me forçada a dizer-lhe que esperava que me abraçasse em vez de se sentar frente à Televisão, que entretanto ligara e cujo ruído se misturava com o do CD. 

Não sei bem porque insisto em pôr a nu tudo o que sinto. Talvez espere que ele entenda como me estou a sentir, o que seria pedir muito.

Virá algum dia alguém que sinta como eu, ao meu encontro e acontecerá uma fusão de alma? ... O meu síndroma do príncipe encantado a voltar à superfície... Culpa do meu pai! O primeiro livro que me comprou, tinha eu uns seis anos foi "A Dama e o Vagabundo". Uma espécie de príncipe encantado ao contrário. No fundo o prenúncio do guião que seria a minha vida. Histórias de príncipes encantados "ao contrário". Histórias de sapo-príncipe - príncipe-sapo.

O Criatura vem por fim abraçar-me, um esgar de beijo mal provado, ao canto da boca, cuja semi ausência me reafirma a inexistência de príncipe nesta história.

Agora é a vez de me serem apresentadas as donas da casa em que vive o Criatura.

  1. Esta é a minha "família" de Cabo-verde: diz o Criatura nervoso-ansioso-orgulhoso?

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- Porquê?- Enquanto me apresenta a Rosa, a Maria e mais tarde o Luís, que segundo o Criatura viajara connosco de Lisboa, no mesmo avião. Durante a conversa inicial, aproveito para testar os meus conhecimentos em astrologia. A Rosa, a dona da casa, signo Leão, 45 anos, comunicativa e com um humor contagiante. A sua filha Maria, signo Capricórnio, de 27 anos e segundo o conceito difundido em Cabo Verde, já solteirona e com promessa de ficar para tia. Após o cumprimento de boas vindas, baixa os olhos numa cortina de comprometimento. - Porquê? interrogo-me - Logo se combina um jantar com camarão gigante que o Criatura comprara para a ocasião, para o dia seguinte, mas que acabará por se realizar dias mais tarde.

Vamos para cima refrescar-nos. Eu e a  - criança-mulher - começamos uma vivência de cumplicidade e partilha nessa noite na casa de banho. Mudamos de roupa após o duche sumário, depois do aviso de falta de água, ameaça que irá pairar continuamente sobre nós. Pinto apenas os lábios e coloco um pouco de perfume, mas a criança - mulher perde muito mais tempo a maquilhar-se e perfumar-se. Saímos enfim. Vamos jantar ao Cermar Gamboa ao lado do Hotel Pérola. Comemos um bife com batata frita de óptima qualidade. Servem dois bifes do lombo de grossura média por pessoa. Não conseguimos comer a carne toda e penso de imediato no desperdício perante a população africana que passa fome. Mesmo ali na mesma cidade. O Criatura paga uma refeição quase ao dobro do valor de um restaurante de luxo em Portugal, embora se possa equiparar pela qualidade do restaurante. Como entradas um queijo Filadélfia, que é sempre agradável e umas ovas de carapau -?- fritas de gosto duvidoso.

A noite processa-se de forma mais ou menos esperada para quem não tem sexo há três meses. Durante toda a noite acordo umas vinte vezes com um calor insuportável e húmido que se cola à pele de forma pegajosa, apesar da ventoinha de tecto gigante que trabalha toda a noite num ruído incomodativo.

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TEXTOS E TEXTOS / POEMAS


O CÃO 

(Comentando o Facebook)

Coloquei ontem no Facebook, um vídeo que falava de um pequeno cão, que seguia a ambulância que transportava o seu dono, vitíma de uma convulsão. O pequeno animal seguiu a ambulância, que circulava devagar, aparentemente por alguns Km. O condutor da ambulância e o enfermeiro que acompanhava o doente, tentaram demove-lo, parando inclusive o veículo e enxotaram-no, mas o bichito não desistia e continuou a perseguir o veículo interpelando-o pela frente quando teve que fazer uma paragem, impedindo-o de avançar, sem o atropelar. Finalmente os técnicos, parecem condoer-se do animal, que poderia ser atropelado a qualquer momento, e deixam-no entrar e acompanhar o dono. Entre os comentários e gostos, uma senhora comenta que há dias tentou acompanhar o próprio filho na ambulância, o que foi recusado. Eu penso: sim mas se me recusarem acompanhar um parente próximo, eu tenho capacidade de decisão e saberei o que fazer em seguida, embora possa não estar capaz de conduzir, não ter dinheiro para ir de táxi, etc... mas o pobre animal, vendo o seu dono em perigo, e impossibilitado de o acompanhar, o que sentirá?

Estás a ler, diz-me o que pensas disto? Queres comentar?

VIAGEM QUE NÃO SEI ONDE VAI PARAR

A perna vai entrando através da borracha o pé que prende. Isto é mais difícil do que eu pensava, isto de ficar invisível tem que se lhe diga. Depois a segunda perna ainda mais difícil, prende, tropeça, rende, tropeça, cai. Caio para a frente, tenho que amparar-me antes que me espalhe ao comprido no chão. Invisível, mas não imutável... ainda que AINDA NÃO INVÍSIVEL. Por fim lá consigo enfiar as duas pernas. Agora sim é que são elas como enfiar as ancas embora estreitas ali naquele tubo? E a barriguita proeminente depois de duas vezes gerar a cria a primeira vez apenas à distância de três anos do primeiro cio?
Puxo, puxo, suo, sopro, rio-me. Agora sim! Os braços! Sim, os braços.Ainda mais difícil. Quase desloco uma costela num esgar de contorcionista mal preparada. A mão que prende! Quase choro de raiva ao empurrar o segundo braço. Agora é só encolher tudo. Abdómen comprimido, conseguir enfiar as mamas, que hoje estão maiores que nunca, dentro da borracha azul escura. Uma espécie de Neptuno, sem sexo, sem corpo. Ah... Falta o cabelo. ERRADO. Cabelo é que não falta. Falta enrolá-lo por forma a que caiba na touca carapuço e agora sim Neptuno, sem corpo, sem sexo.Começo por onde?Agora que sou Neptuno invísivel, confundo-me com a bruma (pas de Avallon), quero confundir-me com a bruma para poder encostar-me no teu corpo, sem que o sintas, para que não possas afastar-me. Poder mirar-me nos teus olhos. Vês qualquer coisa à tua frente mas não podes adivinhar que seja eu. Enxotas-me como a um mosquito, porque és intuitivo e lá no fundo do mar, sabes que estou ali. Mesmo que o não queiras. Porque TU SABES que queres. Que queres mais que tudo SABER PORQUE ESTOU ALI MESMO QUANDO JULGAS QUE NÃO ME CHAMASTE. Mas sabes que chamaste, quando na primeira vez os teus olhos me fizeram perguntas. Quem és? Quem és?
Mas tu sabes quem sou. Só tu sabes.Estás nu. Encosto-me por detrás de ti, só para sentir o teu cheiro, a tua pele, ainda que entre a tua e a minha se interponha a pele de Neptuno, meio peixe, meio homem.E é mesmo aí que a sereia torce o rabo e uma espécie de Unicórnio começa a querer fender a pele de Neptuno. Sentes-te incomodado. Sonhas vagamente com uma cena de violação. Mas Neptuno é um rei. Impõe-se pela sua nobreza. Não recorre a truques baixos. Afasto-me devagar. Agora estou de frente para ti. As tuas pálpebras fremem em REM. Observo os contornos do teu rosto. Não são bonitos, (?) mas são familiares. Conheço-os de cor. Vejo-te os lábios que me apetece beijar com avidez. Ah se tu soubesses a força de Neptuno. Como ele podia subjugar-te apenas pela força do prazer! A sereia volta e sinto os mamilos rijos que quase ferem a pele de Neptuno. Mas o rei volta a dominar o bicho meio peixe, meio mulher. No meio da bruma vejo uma mão que se ergue branca e macia. É a minha mão e acaricio-te o rosto, os lábios, com as pontas dos dedos transformados em pétalas de rosa faço-te carícias plenas de amor refreando a paixão. Só quero agora que sejas o meu menino tenrinho que transporto ao colo num doce mergulho. E tu deixas-te guiar. Nos ouvidos um som de búzio, o marulhar das águas, como se estivéssemos outra vez unidos no ventre materno. Vummmmmmmmmm...Vvvvvuuuuuummmm.
Encosto-te a cabeça no meu ventre e tu sonhas que mergulhas. Tens um sorriso de paz estampado no rosto. Apetece-me E SOU contagiada por essa paz. Começo a tornar-me pequenina para caber nos teus braços. Aninho-me neles e agora sinto-me no colo da mãe. Tudo é fim e princípio... Não sei nem onde começa nem onde acaba. Mas sei que encontrei o meu lugarzinho onde me sinto em segurança... Que não quero sair dali nem despir o meu fato de Neptuno, para não me afastares. Tum,tum,tum,tum, ... é o teu coração. Parece um pássaro que esvoaça. Através das águas profundas o brilho da aurora vem colocar matizes nos meus olhos. Começo a ver o pássaro que bate as asas cada vez mais rápido. Tum,tum,tum,tum, Coloco-te sobre o peito as pétalas dos dedos.
Sossega. Sossega. Não sabes quem estava comigo na cascata? No dia em que o puto viajou dentro do coração? Não sabes? Não sabes? Eras tu! 

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